Amanheceu
cedo sobre o abrigo, e assim foi possível ver a magnitude e esplendor da
paisagem que nos rodeava. O cansaço e preocupação da noite escura do dia
anterior desapareceu, e todos sem excepção respiraram de novo o ar fresco das
montanhas, que agora se mostravam sem medo.
A
manhã foi mágica… fomos de novo brindados com mais um desafio, ou melhor, cifra
cunhada no mais avançado equipamento tecnológico, que regista e guarda momentos
da história.
Depois
de criarmos a nossa capa, o desafio passava agora por compor o nosso ‘Super
Homem-Novo’. Contudo não era uma fórmula simples composta apenas por objectos
materiais… havia algo poderoso que redescobrimos ali, na simplicidade da construção
de algo, que a partir daí ganhou vida em cada um de nós.
Ainda
que calejados pela dura subida, e mesmo alguns de nós, com algumas marcas de
fragilidade física, enchemos-nos de coragem e mantivemos a vontade de conseguir
atingir, sem margem para dúvida, o nosso objectivo – atingir o pico do monte de Lötschenpass, a 2690m de altitude - partimos
então, apenas com o essencial, pelos trilhos que se estendiam monte
acima.
Foi
impossível ficar indiferente à paisagem, que se abriu com o sol da manhã diante
de nós. Entre sorrisos gigantes, brincadeiras e olhares que se perdiam de
vista, fomos apoiando-nos e partilhando histórias e sonhos, pedaços de cada um
de nós.
Parecia
quase um universo diferente, sem rotinas, horários ou pressões… e neste novo
universo, caminhávamos agora sobre uma massa de gelo límpido que se derretia
nas nossas mãos.
Atingimos
o vale gelado a 2420m de altitude. Demorámos mais tempo do que tínhamos delineado a priori para ali chegar.
Tivemos de recalcular quando atingiríamos o pico da montanha, dado o ritmo do
grupo. Percebemos que iria começar a anoitecer antes de chegarmos ao abrigo, e
que assim sendo não teríamos mantimentos e condições de segurança que
garantissem que todo o grupo chegassem bem ao centro.
Ainda
que quiséssemos todos atingir o pico, compreendemos que nem todos iriam
conseguir atingir o ritmo necessário para fazer esse trajecto antes de
anoitecer. Por muito que nos tenha custado, entendemos que só fazia sentido se
o atingíssemos enquanto grupo.
Decidimos então regressar, não sem antes
criarmos a nossa própria cruz, como símbolo do pico que atingimos em grupo e,
também ela como ponto de viragem.
Descemos
pelos trilhos que havíamos antes subido, acompanhamos pelo ritmo das pedras que
se soltavam e rolavam na descida. Recolhemos as nossas mochilas no abrigo, e
despedimos-nos do lugar onde compusemos o nosso ‘Super Homem-Novo’.
À
semelhança da subida, a descida foi igualmente íngreme e sinuosa. Depois de
umas quantas peripécias, atingimos de novo caminho menos acentuado, que se foi
estendendo até ao Centro.
Neste
caminho de regresso partilhámos de novo o peso das mochilas e até mesmo do
nosso corpo, para podermos regressar, àquela que foi a nossa verdadeira base
durante esta aventura.
Anoiteceu
rápido, e entre os vales, o manto denso e frio da noite foi-se alastrando,
mesmo assim tivemos a sorte de ser gladiados pela lua, que como que às
escondidas aparecia e desaparecia entre o nevoeiro.
Chegámos
tarde ao centro, o jantar já á muito que tinha sido servido. Foi-nos guardada
comida, que nos soube imensamente bem depois desta aventura. Os olhares
cansados foram partilhados à mesa, mas sempre que acompanhados com um sorriso.
Depois de todos os afazeres teríamos ainda aquele que haveria de ser um dos
momentos mais marcantes desta actividade.
Debaixo
do manto de estrelas, que estranha e magicamente se abriu de novo para nós no Campsite, passámos a guardar aquele que será o maior segredo deste
nosso 'Super Homem-Novo'. Contudo, não existe nenhum equipamento altamente
avançado para guardar o momento. Apenas cada um dos nossos corações o poderá
revelar.
A partir desta noite, haveria uma chama que nunca mais deixaria de fazer sentido.
Andreia
Domingues.
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